Conservação do solo na Geotecnia: Sustentabilidade e estabilidade em obras de Engenharia
15 de abril de 2025
Conceitos, impactos da degradação do solo, técnicas de conservação e a relação entre ética, responsabilidade socioambiental e inovação tecnológica por Izamara Verteiro, estagiária de Geologia.
Na geotecnia, o solo é analisado como material de construção e suporte. Propriedades como resistência ao cisalhamento, estabilidade, permeabilidade, compressibilidade e tensões efetivas são fatores decisivos na segurança e viabilidade de obras geológicas-geotécnicas, como nas fundações, taludes, barragens, contenções e aterros. Quando o solo está degradado – por erosão, compactação excessiva, escavações mal planejadas ou alteração da drenagem natural – as estruturas ficam vulneráveis a recalques, rupturas e instabilidades.
Por isso, sob a perspectiva geotécnica, a conservação do solo na geotecnia não se limita à preservação ambiental: ela é também uma estratégia de gestão de riscos e de redução de custos a longo prazo.
Princípios Básicos do Solo
O solo é um material particulado natural na camada superficial da crosta terrestre formado pelo intemperismo físico e químico das rochas, que pode ou não estar misturado com matéria orgânica. Os solos são classificados com base na granulometria (areia, silte, argila), plasticidade (índices de Atterberg) e sua descrição é de acordo com o Sistema Unificado de Classificação dos Solos (SUCS) e a ABNT NBR 6502. Na geotecnia, seu comportamento é analisado por meio de parâmetros como:
- Granulometria: distribuição dos tamanhos dos grãos (argila, silte, areia, cascalho);
- Plasticidade: capacidade de deformação sem ruptura (índices de Atterberg);
- Permeabilidade: facilidade com que a água atravessa o solo;
- Compacidade ou densidade: grau de compactação das partículas;
- Resistência ao cisalhamento: medida da capacidade do solo em resistir a forças que tendem a provocar deslizamentos.

Essas propriedades são determinadas em laboratório e em campo por meio de ensaios como SPT (Standard Penetration Test), CPT(u) (Cone Penetration Test com medição de pressão), cisalhamento direto, triaxial, edômetro e permeabilidade. Dessa forma, é possível definir fundações e criar contenções, aterros, drenagens e taludes.
Impactos e soluções para a degradação do solo em obras geotécnicas
Do ponto de vista geotécnico, alterações no solo — causadas por erosão, escavações desordenadas, saturação por água ou compactação excessiva — afetam diretamente sua resistência, sua estabilidade e seu comportamento frente às cargas aplicadas (PINTO, 2006; VARGAS JR., 2010), gerando problemas geotécnicos como:
- Ruptura de taludes e encostas, agravada pela erosão hídrica e pela remoção da vegetação nativa;
- Recalques diferenciais em fundações devido à compactação desigual do solo;
- Perda de resistência ao cisalhamento, comprometendo a segurança de estruturas de contenção;
- Assoreamento de corpos hídricos, afetando bacias de contenção e drenagem urbana.

A fim de conservar o solo e prevenir falhas, redução de custos com manutenção e ampliação da vida útil das estruturas, é valido ressaltar que durante e após a execução das obras é necessário:
- Estudos geotécnicos prévios: Investigações como sondagens, ensaios de permeabilidade e caracterização físico-química dos solos permite identificar suas limitações e potencialidades, o que garante um projeto mais eficiente e seguro.
- Técnicas de drenagem: Sistemas de drenagem superficial e subsuperficial para controlar o fluxo de água e evitar a saturação do solo, um dos principais fatores de instabilidade.
- Estabilização de taludes: Métodos como solo grampeado, uso de geossintéticos, vegetação e gabiões reforçam encostas e preveni erosões.
- Revegetação e proteção superficial: Cobertura vegetal e técnicas como hidrossemeadura e biomantas ajudam a proteger solos expostos em áreas de corte ou aterro.
- Manejo de áreas de empréstimo e disposição de resíduos: Tratamento adequado do solo removido evita impactos ambientais e estruturais no entorno da obra.
Integração entre técnica, ética e meio ambiente
A conservação do solo na geotecnia exige mais do que cálculos e soluções técnicas — ela demanda consciência ética e responsabilidade socioambiental. Cada obra de engenharia, por menor que pareça, interfere no equilíbrio do meio físico, impactando ecossistemas, corpos hídricos, relevo e comunidades. Nesse contexto, a geotecnia deve atuar como uma ciência aplicada que respeita os limites naturais do terreno e busca soluções que harmonizem estabilidade estrutural e preservação ambiental.
A ética profissional na engenharia se manifesta nas decisões cotidianas. Projetos éticos reconhecem que o solo não é um recurso infinito — ele carrega história geológica, funções ecológicas e valores sociais.
Ao mesmo tempo, a técnica não pode ser negligenciada. Práticas conservacionistas precisam ser baseadas em conhecimento científico, dados de campo e simulações geotécnicas confiáveis. A integração entre técnica e meio ambiente é possível — e necessária — quando o profissional compreende que estabilidade e sustentabilidade são dois lados da mesma fundação.
Conservar o solo em projetos geotécnicos não é um diferencial, mas sim uma exigência técnica, econômica e ambiental. A geotecnia atua como ponte entre o aproveitamento do terreno e a preservação de seus atributos naturais. Obras que são planejadas e elaboradas sob consciência ética e responsabilidade socioambiental desde a fase de concepção até a operação contribuem diretamente para a segurança da população e a sustentabilidade da infraestrutura.
Em 15 de abril, comemoramos o Dia da Conservação do Solo, e aqui reforçamos que a engenharia do futuro será aquela que respeita os limites do meio físico e adota soluções integradas para proteger os recursos naturais.
Referências
ALMEIDA, F. S. de; FREITAS, M. C. de; REZENDE, L. R. de. Conservação do Solo e Engenharia Geotécnica: interfaces e perspectivas. Revista Brasileira de Geotecnia Ambiental, v. 9, n. 1, 2021.
CPRM – Serviço Geológico do Brasil. Geodiversidade e conservação do solo no planejamento urbano. Brasília: CPRM, 2022.
ECYCLE. (s.d.). Conservação do solo: o que é, importância e práticas sustentáveis. Disponível em: https://www.ecycle.com.br/conservacao-do-solo
EKOS Brasil. (s.d.). Conservação do solo e sua importância para a biodiversidade e mitigação das mudanças climáticas. Disponível em: https://www.ekosbrasil.org
GOMES, M. A. F.; COSTA, J. C.; MORAES, R. de F. Sustentabilidade em obras geotécnicas: critérios ambientais e econômicos. Revista Solos & Rochas, v. 42, n. 2, 2019.
HOEK, E.; BRAY, J. Rock Slope Engineering. 4th ed. CRC Press, 2017.
LIMA, H. C.; SANTOS, P. M. dos. Estabilidade de taludes em solos tropicais: conservação, revegetação e controle de erosão. Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, 2018.
PINTO, C. S. Curso Básico de Mecânica dos Solos. 6. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2006. VARGAS JR., E. Geologia de Engenharia: aplicações práticas na construção civil. 2. ed. São Paulo: Interciência, 2010